Seleção por valores ganha espaço nas empresas
Ter afinidade com a cultura da empresa pode valer mais do que experiência!
Já reparou que o foco da seleção de profissionais tem mudado nos últimos tempos? Observe. É cada vez mais comum grandes empresas adotarem a chamada “seleção por valores“, em que os valores pessoais, isto é, os propósitos de vida, pesam mais na escolha de um candidato do que sua área de formação, faculdade de primeira linha e até mesmo experiência profissional. O motivo é simples: ao contratar pessoas com valores alinhados aos seus, as empresas acreditam que a relação será mais sólida e duradoura.
“Os valores definem como as empresas se comportam e isso terá um papel cada vez mais importante, tanto nas decisões de compra dos consumidores, quanto na atração de talentos para ocupar suas vagas”, afirma Renata Magliocca, gerente de inovação da Cia de Talentos. Ela explica que já faz um tempo que alguns paradigmas de negócios antigos não servem mais nem às empresas nem à sociedade. “Já não é suficiente oferecer um excelente produto ou serviço, é necessário basear-se em valores e regras que apoiam o bem comum”, diz ela.
Esses tais “valores” são princípios e metas que norteiam o comportamento de cada pessoa. “Eles são de extrema importância para garantir uma boa contratação e retenção dos colaboradores de uma empresa”, explica Renata. “Quando trabalhamos em uma organização cuja cultura está alinhada com nossos valores pessoais, somos capazes de nos dedicarmos integralmente ao trabalho”, afirma. “Trazemos não apenas nossa criatividade e entusiasmo, mas também nosso compromisso com o bem-estar de nosso grupo e com o sucesso da organização.”
Como ocorre a seleção por valores
A Kimberly-Clark, multinacional americana de bens de consumo, que tem marcas fortes como Neve, Intimus e Huggies Turma da Mônica, por exemplo, é uma companhia que há tempos tem essa preocupação na seleção de profissionais de todos os níveis. Para Fernanda Ribeiro Abrantes, gerente de RH da empresa, não há dúvidas de que valores e competências comportamentais são de fato mais importantes do que o conhecimento técnico na hora da seleção de pessoas. Segundo a gestora, quanto maior o nível de aderência dos colaboradores aos valores da empresa, maior é o nível de engajamento e confiança. “Essa aderência de valores é fundamental tanto para a empresa quanto para o colaborador, que também deve buscar sempre esse alinhamento”, afirma.
Para selecionar pessoas com valores alinhados aos seus, a Kimberly-Clark realiza entrevistas baseadas em competências e busca identificar com base em que valores o candidato toma suas decisões profissionais e pessoais.
A Natura, indústria brasileira de cosméticos, está tão preocupada em atrair pessoas com valores alinhados aos seus que desenvolveu um tipo de “rede social” especialmente para o recrutamento de estagiários e trainees. Por meio da plataforma, os candidatos interagem com a empresa e entre si para realizar diversas atividades individuais e em grupo.
Com isso, a empresa não tem mais de aplicar testes de Inglês ou Matemática nas fases iniciais do recrutamento para fazer o primeiro grande filtro de candidatos. Agora, esse filtro só ocorre depois de muita interação, quando a empresa já tem noção de quem é quem. “Nossa estratégia de recrutamento e seleção foca na atração de profissionais não apenas tecnicamente qualificados, mas com propósitos de vida alinhados aos nossos”, explica Denise Asnis, diretora de Recursos Humanos da Natura.
Isso porque a Natura — como quase todas as empresas que já aderiram à seleção por valores — constatou que é muito mais fácil oferecer um curso de língua estrangeira ou um treinamento técnico a um profissional do que modificar os seus valores.